quinta-feira, 20 de março de 2008

já é Páscoa

A claridade ameaçava sol.
Era cedo. Talvez já se ouvissem os pássaros, talvez fosse o vento a passar pelas ripas das portadas.
Virei-me para o outro lado.
Tentei dormir.
Ouvia agora claramente o chilrear de um pássaro. Que pássaro seria?
Apetecia-me abraçar-te. Saberias decerto que pássaro era e porque chilreava. Chamaria a parceira ou procuraria o ninho?
Dei mais uma volta.
Alguém tentava abrir uma janela. ABRIR UMA JANELA??...estremeci com tanto de medo que sentia a pulsação nos dedos dos pés… não pode ser…tocaria o alarme da casa, se alguém o fizesse…
Oxalá estivesses aqui comigo…dirias com a tua voz grave, não é nada, como se ouvisses o meu pânico, como se sentisses o meu pulsar…De facto não é nada… é o vento a empurrar as portadas…mas aquele guinchar…parece mesmo o correr das janelas perras… desenho em silêncio a entrada furtiva de alguém pela casa…o que quereria? O que viria fazer? Imagino a apunhalar-me e eu sozinha e indefesa a esvair-me em sangue e a empapar os lençóis de vísceras e lágrimas…
05:10, marca o despertador .
Aninho-me fetalmente nos meus lençóis de polar.
O pássaro continua a cantar. Não virá uma rabanada de vento que o leve?
Respiro fundo.
Já só tenho 2 horas para dormir…tenho que conseguir adormecer, tenho tenho tenho!!
Que stress… há meia hora acordada…!
Aninho-me novamente. Alguém força novamente uma janela. Racionalizo o meu medo, visualizo mentalmente a portada a ser empurrada pela ventania.
Descanso.
Tento dormir. Penso em ti, em nós e aninho-me e inspiro suavemente.
Deixo-me dormir.
Daqui a pouco já é Páscoa.
Daqui a pouco já estamos na Primavera.
E o sono profundo embala-me até de manhã.

segunda-feira, 3 de março de 2008